sentindo cheiro de sangue
o velho gosto amargo
o frio das noites mal dormidas
nas músicas sem ritmo
na tela em branco sobre o cavalete
na argila seca sobre a mesa
me deixa aqui
contando as manchas no teto
os retalhos das roupas velhas e manchadas
as fissuras nas paredes do quarto
resgatando as páginas do antigo diário
as pontas soltas das costuras
os fragmentos dos meus anseios
o que me sobra de estímulo
me deixa aqui
revendo as fotos nos álbuns mofados
os filmes no vídeo cassete estragado
as luzes que passam incessantemente na janela
trocando as cores dos olhos que me encaram
os nomes dos filhos que não tivemos
as datas dos dias que não vivi
a ordem das dores que sinto
me deixa aqui
acostumando-me com a tua ausência
com os dias longos sem nenhum propósito
com a falta de compreensão
deixando as horas correrem vazias
o teu silêncio ocupar o espaço
as minhas fraquezas tomarem forma
a porta aberta pra você partir
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