quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Téfnis

chovia.


deitado em meu quarto, com as janelas gradeadas fechadas e a cortina entreaberta, eu apenas via relances de relâmpagos e ouvia o som forte da água contra o vidro.

com a lâmpada acesa, passava os olhos pelo livro mas mal absorvia o conteúdo, voltando diversas vezes para reler o que havia se passado pelas páginas que estavam há meses repousadas no móvel ao lado da cama.

gostava muito de ler, mas fazia muito havia perdido o hábito da leitura, e tentava muito retomá-lo, entendendo aquele momento como uma oportunidade de me desligar de toda a realidade, e da necessidade do foco e atenção que o livro tem, para que consiga construir toda uma história em minha cabeça a partir apenas de palavras, o que auxilia demais para que eu possa simplesmente esquecer e evitar as demais atribulações de minha mente.


e enquanto transitava entre pensar demais, tentar absorver a história que estava lendo, e voltar alguns parágrafos, chovia.


chovia forte, e eu desejei muito forte estar debaixo dela. tomar banho de chuva, sem nenhuma preocupação, e sentir aquela água lavar, por dentro e por fora, tudo que estava comigo naquele momento.

um desejo quase que espiritual de entregar para a água corrente tudo que não mais me pertencesse.


com esse pensamento, focado no som da chuva, adormeci. o livro em meu colo. a página, perdida. voltaria alguns parágrafos quando acordasse. a luz seguiu acesa.


e lá fora,


chovia.

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