terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Processo de Reforma

Quem vai te amar, afinal? Se ficou só desde pequeno, se a voz que ecoava os corredores rasgava os teus tímpanos e os enchia de medo, as paredes brancas geram parte do trauma e o pavor não tem rosto mas tem um som que não cessa por mais que você queira esquecer. 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

as velhas rosas

quando sangram as mãos
perfuram a pele
rasgam os tecidos
atravessam as veias
e ainda assim
não há como soltar
o ramo com espinhos

terça-feira, 17 de novembro de 2015

A Harmonia dos Dias

Tá todo feito de idas e vindas, todos os entornos dos dias
Tá todo feito de passos incertos, caminhos estranhos, e atalhos espinhosos
As notas de rodapé já perderam o sentido, e você continua a anotar no cantinho do papel os nomes que você criou pra se perder e pra não esquecer
O que você pensa em esquecer depois que virar a curva, afinal?
Tá gelada a chuva, viu?

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Desviando de Cometas

É aquele velho cheiro de alfazema impregnado nos lençóis da velha cama.
Aquele velho cheiro me remete ao perfume das toalhas dos hotéis de beira de estrada que eu ia parando quando meus pés já estavam cansados demais de caminhar.
Se saí, se parti, se fugi. Como fui, do que fui, e porque fui. Acho que nada disso mais interessa.
Nada disso mais faz sentido, ou tem razão de ser explicado. Nada disso mais te interessa.
Eu acho.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Para dias como o teu

Pequena,

Que nunca desistamos apesar do sabor agridoce dos dias. Reconheço as lutas, reconheço as dores, reconheço os medos. Por mais que, dentro da pequena armadura que envolve os teus desejos, você queira parecer gigante, inviolável, forte e inabalável. Reconheço bem cada pedaço que está protegido pelo invólucro que te dá os passos, e identifico cada alteração em cada nota da voz que ouço só na cabeça quando vejo tuas palavras soltas por aí.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Sobre Pais e Filhos

Nosso filho está perdido. Apareceu com uns folhetos de curso de desenho, e disse que sonha em ser ilustrador. Ilustrador, pensa só. Logo ele começa a pichar muro, e vamos ter que ainda por cima gastar dinheiro com fiança. Com certeza, vai perder o ano na escola também. Duvido que estude ou aprenda alguma coisa. Isso de desenho é coisa de gente que não quer nada.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Conclusões ao Acaso

Para ler ouvindo: The Beatles - If I Fell (preferencialmente, na versão para o musical Across the Universe, interpretado por Evan Rachel Wood)


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Os Reflexos do Inverno Conjugal

Já estava claro para ele. Era o que ele queria acreditar. Depois de algumas garrafas de gim, alguns discos do Cartola, algumas ligações que caíram na caixa postal. Tudo já estava ficando mais claro. Mas, só pra confirmar, ele levantou do chão - em meio as fotos rasgadas, os lençóis sujos de sangue, catarro, suor e lágrimas, e as garrafas vazias - e, tateando as paredes pra não cair de bebedeira e desnutrição, decidiu voltar até o quarto pra encontrar, de novo, os armários dela vazios.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

terça-feira, 18 de agosto de 2015

domingo, 16 de agosto de 2015

Da Lua até Vênus

São todos esses dias
Aproximadamente 5, ou 6 - tenho preferido não contar pra não parecerem mais longos do que já os percebo
Todos esse acumulados de segundos que dão lar e espaço para incontáveis sentimentos atravessados
Anseio e espero pelo pior, com uma religiosidade absurda

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Ao Fechar a Porta

Depois de deixar tudo pronto, e de ter pensado - enquanto empilhava os meus pertences, e guardava da melhor forma possível - em ir embora sem te deixar uma carta ou um motivo para partir, decidi que não. Que seria egoísmo, que seria falta de respeito e de que, talvez, você merecesse alguma explicação para a minha saída repentina da nossa convivência, e por consequência, da sua vida a partir deste momento.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Como você está?

Se você pergunta como estou, eu realmente demoro a responder
O hábito de se iniciar uma conversa com esta pergunta
Religiosidade social

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Crueldade Cênica

Tenho tentado, à todo custo, oferecer a mim mesmo o amor que eu sempre esperei de ti. Estampei, por muitas vezes, na tua fronte, não o que eu esperava de ti - o que esperava da tua essência, do teu ser, e daquilo que você realmente tinha para me entregar, para me oferecer. Acabei, no entanto, impondo-te, quase que inconscientemente - ou acreditando que seja inconsciente apenas para ausentar-me da culpa de ter feito isso porque eu realmente quis -, a forma daquilo que eu considero correto.

domingo, 26 de julho de 2015

De Encélado

Clarisse,

Sentindo-me sempre um satélite solitário, orbitando no universo que você construiu com uma explosão de reclusões e silêncios, encontrei companhia nos objetos que flutuam ao redor de Saturno. Ironicamente Saturno, cujos anéis eu tentei, incansavelmente, roubar para dar-te em presente da devoção imensurável que sinto pela tua existência.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Renascença

Foi na cor dos seus olhos. Reconheci aquele brilho desde a primeira vez que olhei. Havia algo cognoscível, algo que eu já havia encontrado antes. Como quando a luz da lua bate no orvalho das folhas, e o reflexo encontrava com a minha retina e me deixava, por alguns segundos, alegremente cego em um arco-íris particular. Ou quando tropecei nas latas de tinta no chão, e colori o assoalho com a paleta dos meus descuidos, do meu susto, do meu desespero, e da sinfonia das tuas risadas com a minha pintura abstrata acidental. 

domingo, 19 de julho de 2015

O Desenlace

- Parecia meio turvo quando olhava para o lado
- Aceite o toque e você será perdoado 
- Um tanto vazio, um tanto perdido
- Havia luz onde você não enxergou

quinta-feira, 16 de julho de 2015

(De)formações

Nas gotas de chuva, eu via os reflexos dos dias. Haviam tantos séculos de amargura e silêncio, que eu já pouco reconhecia o que via, mas sabia que toda aquela água, que parecia quase me afogar, me mostrava os dias que eu não vivi. Os dias que não foram. Os planos abandonados, os desejos não concretizados. Eu via tudo que nos envolvia, com os olhos do pouco que me restava.

terça-feira, 14 de julho de 2015

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Nas gotas d'água

Você foi pra longe e não deixou uma carta. Abriu as portas dos armários, puxou as roupas com cabide e tudo. Nem se preocupou em dobrar as camisas, que passei com tanto esmero pra que ficassem bonitas pra você ir trabalhar. Jogou tudo dentro da mala, de forma que amarrotasse tanto que nenhuma das minhas marcas ficasse nos tecidos. Deixando a marca da mala no lençol da cama. Deixando as marcas na pele onde você tocava.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

quinta-feira, 2 de julho de 2015

coágulo das infiltrações, II

você que desenha os meus dias
que rabisca sobre as minhas curvas
que desarruma minhas linhas
não me deixe sem respostas

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Carta de Fundo de Gaveta; ou as variações de nossas atmosferas

Decidi, quase como uma forma de autoflagelo, vasculhar os velhos álbuns, ontem. O que inicialmente me espantou foram as diversas formas de mim mesmo que encontrei nas velhas fotos. Se reunisse diversas imagens minhas, de todos esses anos desde que coexistimos um na vida do outro, haveriam diversas pessoas diferentes. Uma não reconheceria a outra. Múltiplas variações. Apenas as cicatrizes são as mesmas.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

domingo, 28 de junho de 2015

De Atlântida

Clarisse,

Desde o dia em que pisei no porto, algo me dizia que não deveria entrar naquele navio. Uma força me impelia para longe, tentava me manter distante. Ouvi a tua voz todas as noites que antecederam ao dia em que o navio partiria. Você me dizia, com sua voz calma e suave, de que eu deveria ficar. De que eu deveria voltar. Quando acordava, porém, isso me dava ainda mais força para ir contra o teu pedido, pois eu sabia, Clarisse, que mesmo se eu ficasse, você não abriria tuas portas pra me ver.

sábado, 27 de junho de 2015

(prólogo coagulatório)

justamente quando a paz está instaurada
os meus olhos cruzam o teu espectro
amarram minhas cordas no teu porto
observam os meus dias serem talhados na madeira que tem o seu nome

quinta-feira, 25 de junho de 2015

A Validade da Existência

Existem coisas que não sei explicar. Essa falta de toques que desconheço, a saudade do cheiro que nunca senti, o desejo de sabores que nunca provei. Estar orbitando nessa realidade que criamos em torno de nós dois, e de nossos versos esporádicos, e que ao mesmo tempo me confunde e me espanta, me mantem seguro em um cosmos puro e suave.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Do inverno

Clarisse,

Quanto o vento frio encosta na minha pele, e os meus pelos ficam eriçados, eu sinto que ainda exite algo de vida pulsando dentro de mim. Em vários momentos destes últimos dias, eu tenho me esquecido que ainda respiro. Fico sem ar, trancam-me as narinas, fecha a traqueia. E aí, essa brisa congelante me faz puxar o ar muito forte,e muito rápido, me deixando ofegante e assustado. Não era a hora de parar de fazer o sangue circular. Ainda não.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Rimas Assoantes

Foi naquele teu abraço. Houveram promessas, eu sei. No meio dos versos da tua poesia, existem espaços vazios. Pretendi preencher, mas os nomes ainda se misturam como numa criação dadaísta. Em uma versão mais triste e deprimida de Tristan Tzara, você joga as palavras ao vento e o meu nome não estava no teu saquinho de recortes. Mas, houveram promessas, eu sei.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Nas Partículas do Vento Abaixo de Zero

As ruas tem cheiro de podre, menino. Eu sinto sair dos bueiros, das bocas dos transeuntes, das almas mais sujas. Já não acredito mais na pureza humana, não. Foram tantas as decepções, os ataques e os furtos, que só me sobraram sentimentos ruins e pequenos sobre tudo que nos rodeia enquanto seres viventes dessa selva de insanidade e abuso. Só percebo que está tudo podre, e que eu me perdi em bolor e mofo nesses dias escuros, menino.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Dos becos escuros

Clarisse,

Enquanto me perdi em versos, você passou a chave nas portas pela parte de dentro. Tentei chamar o teu nome, este que todos conhecem, e também os que eu te sussurrava no ouvido, e que só tu sabes. Porém, de nenhuma destas mulheres que existem - e que criamos - em ti, eu recebi uma resposta.

domingo, 14 de junho de 2015

Reencontro

Reformulei a mesma pergunta, diversas vezes, com palavras diferentes, para talvez obter resultados diferentes no tarot. Reescrevi teu mapa astral, diversas vezes, desejando que ao menos a cidade que você nasceu estivesse errada, em outro lado do planeta, em outro hemisfério, para que o posicionamento dos teus astros me dissessem algo diferente do que me diziam.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Carta de Fundo de Gaveta; ou a desconstrução de verdades cortantes

Quando reconstruo em minha mente aqueles dias, tudo parece quase como uma ilusão. Um sonho estranho, uma lembrança incompleta. Uma verdade desconstruída. Parece, querido, que eu me desmontei de passado pra me desarmar de feridas. Pra não tocar as cicatrizes, eu baguncei as páginas desse diário de mim e cobri todas as partes que estavam expostas com nanquim. Mas, não foi de muita valia. É como cobrir tatuagens. Por mais que exista outro desenho por cima, ainda sei o que havia escrito embaixo das novas flores com passarinhos.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Inocente

A culpa é do café que está quente demais, queimando meu céu da boca. Da água que não ferveu o suficiente, e esfriou rápido demais o meu chá, deixando com um gosto amargo. Da noite que chegou muito cedo, diminuindo o meu tempo de ter vontade de fazer alguma coisa. Do sol que nasceu antes do horário, e me fez ter menos horas de sono.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O Peso da Despedida

Essa distância é que machuca, pequena. Tento viver o máximo dos teus dias, e dos teus toques, e das tuas palavras quando estou contigo, mas algo insiste em ficar me lembrando, todo momento, que é necessário voltar. Que há uma vida lá atrás, no caminho que eu deixei, e que essas horas são passageiras e que eu preciso pegar o caminho de volta e te deixar só. E me deixar só. Mesmo sabendo que o que vai é o meu corpo, e que nós ficamos de mãos dadas por todo o caminho de volta, e enquanto eu estou aqui, e você aí, as nossas mãos continuam juntas, e não se separam nunca. Essa distância é só o que machuca. 

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sobre Partir

Se for pra partir, que parta de uma vez. Se destrua em pedaços, se desfaça em milhões, esfarele no chão até não mais existir. Moa todos os pedaços com as mãos, pise em cima, esfregue no assoalho, até não sobrar vestígio. Varra o pó pra fora, deixe se misturar com as folhas e com o vento e que tudo isso voe para muito longe daqui. Para muito longe de mim.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Ao Brilhar

Se não é o seu sorriso, simplesmente não é. 
Não há luzes na avenida, não há foco nesse farol. Se o brilho não é o seu, simplesmente não é.
Que o universo conspire, que ele exploda e recomece, e nessa imensa supernova, o teu sorriso se refaça.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Desalinhado

Senta aqui ao meu lado, e me conta. Pode ser sincero, não há o que esconder. Não há nada que eu já não tenha notado, que eu não tenha percebido. Que você já não está mais aqui, que seus olhos já não passam mais pelas mesmas paisagens que os meus, que os teus sonhos diferem em cores e traços dos meus pesadelos escuros e sem formas definidas. 

domingo, 31 de maio de 2015

Essência de Partida

Se você é feito de idas e vindas, moreno, talvez não devesse voltar.
Eu fico sempre na janela, esperando ver se as pernas que viram a esquina tem o formato e a cor das suas. Se o movimento dos pés parece com a dança suave que os seus fazem ao tocar o chão.

sábado, 30 de maio de 2015

Sinestesia

Você, com odor de alfazema e sabor de saudades. Tá difícil olhar pra fora, os olhos ardem depois de dias sem abrir os olhos. Foi ruim aguentar as esperas, os minutos, as horas que nunca correm. Nunca correm. Foi complicado estar deitado só na cama fria, sem forças para buscar uma coberta pra me proteger dos sopros frios de solidão que me batiam há todo momento. 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Se Você Vem

Se você vem, eu abro as cortinas e deixo o sol entrar. Lavo a roupa de cama, bato os travesseiros para eles não parecerem tão vazios de espuma, coloco o colchão lá fora pra tomar um ar. Passo um pano nas prateleiras, reorganizo os livros e os filmes em ordem alfabética, coloco os cd's de volta nas suas devidas embalagens. Removo os tapetes, passo aspirador de pó no chão, tiro as marcas de mofo e de umidade que se acumularam com o tempo nas paredes fechadas.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Ao Pisar o Asfalto

Saí para caminhar em um dia qualquer. Era só mais um outro novo dia. Parara de fazer qualquer coisa há alguns anos. Estudar, trabalhar, me divertir. Não. Minha rotina seguia girando em si mesma num moinho de tédio e comodidade. Eram, inclusive, basicamente as mesmas luzes e mesmas cores que eu via todos os dias, nas mesmas ruas. Não que eu acredite que o mundo parou em tons pasteis para sempre. Acredito, sim, que os meus olhos já tinham criado aquela imagem tão firmemente, que nada mais fosse visualizado além dessa fotografia do tempo. Nesse dia, porém, algo chamou minha atenção, quando ao virar a esquina
Atenção, ao dobrar uma esquina
Aquela música, aquela voz aguda, aquele instrumental cativante. Toda aquela canção parecia conversar comigo, pois eu sorri e 
Uma alegria, atenção menina

terça-feira, 26 de maio de 2015

Fragmentos dos Dias em Além-Mar

Qual é a cor dos teus olhos, pequena?
Houveram vazios e espaços de tempo e quartos vazios e silêncios. Diversos silêncios. Daqueles que ocupam os espaços - de tempo e dos quartos - e que machucam os vazios. Houveram silêncios, pequena, eu sei. Abandonei as responsabilidades, e as palavras compartilhadas, e as páginas rabiscadas dos nossos projetos de seguir em frente, e te deixei.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

O.N.I.

Sentiu esse frio? Sentiu? Não? Tá tão gelado que parece que vai congelar meus ossos, e ser possível quebrá-los com as mãos logo depois. Não tá sentindo?

domingo, 24 de maio de 2015

Bastão de Combate

- Meu dia foi bem diferente do que estou acostumado. Meus dias têm tons de frieza. Acho que posso chamar assim. Mas hoje, meu dia teve uma cor azul. Azul, porque sou garoto. Azul, porque o céu é azul. Azul pra combinar com meu casaco. E com a cor do abajour. A-B-A-J-O-U-R. É francês, não é? Eu conheci um francês. Ele gostava de azul. Azul porque o mar tem tons de azul. Agora tudo parece ter mais sentido.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Rotas Opostas

Por que o quarto está tão frio?
Quando, no meio da noite, eu faço essa pergunta às paredes escuras, escuto Ian Curtis traduzir meu questionamento, e seguir sua canção.
Mas, diferente do que ele canta, você não se virou para o outro lado. Afinal, você não mais está?
Onde você esteve por esse tempo todo, afinal?

quinta-feira, 21 de maio de 2015

10 Padre-Nossos e 15 Ave-Marias

Foi ao entrar no carro. Esperei por vários dias, e várias negativas, até que você disse sim. Recorda? Por algum motivo, eu sempre soube. Algo em mim sempre dizia que eu deveria tentar, que eu deveria fugir, que eu deveria ficar, que eu deveria partir. Esse paradoxo interno, essa sensação de chegada e partida, essa sensação de que isso me construiria. De que você me destruiria. De que eu te amaria. Tudo isso - hoje percebo - eu já sabia. Sabia quando você entrou no carro.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Cretenses

Quando a hora é um tanto torta, e os dias se arrastam, eu me torno arredio. Eu recuo, eu me afasto, eu fujo até de mim. Em dias como esses, eu compro cerveja em qualquer boteco na rua, e acelero o meu carro bem rápido em direção a todos os muros que encontro na frente. Freio bem em cima. Deposito minha cabeça no volante, com o gargalo da garrafa encostado na boca, e choro e rio ao mesmo tempo. Um dia, quem sabe, um dia. Um dia eu não vou frear. 

terça-feira, 19 de maio de 2015

segunda-feira, 18 de maio de 2015

La douleur

Je ne suis pas votre amour.
Isso, eu aprendi com muitos socos no estômago e muitos sonos perdidos, virando na cama. Com muitos vícios alimentados, tóxicos e dinheiro consumidos em noites sem dormir, com corpos vagantes e errantes no caminho - meus e de outros -, com canções envenenadas pois estavam na playlist das noites que eu fiquei grudado em tua pele branca e fria e suada.

domingo, 17 de maio de 2015

Sobre as horas passadas

Hoje, eu pensei em sacar todo o dinheiro que me resta do salário que eu tenho pra passar o fim do mês. Pensei em passar na esquina perto daquele hotel onde só param ônibus feios e velhos, e pedir pro cara que fica sentado ali na esquina tudo o que me resta em pó. Acho que conseguiria comprar umas 9 buchas de cocaína. O suficiente pra não dormir os próximos 3, 4 dias. Pra não sentir fome pelas próximas 2 semanas. Pra não acordar pelo menos até a próxima encarnação.