quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sem Reparos

Então, me conta o seu dia. Senta aqui, espera um pouco. Não, não vai embora ainda. Eu só queria ouvir um pouco tua voz, te ver sorrir. Te contar que ontem à noite eu sonhei contigo. Que teu cabelo tava comprido, e você me perguntou se eu gostei de você assim. Estava até o ombro, e te deixava com um ar angelical. Emanava um brilho de teus olhos que eu jamais vira antes. Teus olhos me cegavam, tanta luz. Me contou, em meu sonho, que tua vida tava ótima, e que viera me buscar, sorridente.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Paredes Mofadas

- Eu sempre soube

- Quem não?

- E agora, isso

- Nunca foi segredo

- Poderia ter sido evitado

- Não nos cabe

- Por quanto tempo?

- Julgar

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Inapropriado

- Eu vi
- Os dias são tão longos
- Acho que todos acabaram vendo
- Tem demorado pra passar
- Não fizeram nem esforço pra esconder
- Eu também vi
- Espero que não se torne frequente

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Desarmado

Como você, são poucos. Eu resisti ao andar do moreno nas praias cariocas. Me seduziam suas pernas, a maneira como se moviam a cada passo. Suas coxas bem definidas, sua panturrilha dura. Me prendiam contra o seu corpo, e me faziam suspirar baixinho. Me beijou pescoço ombros costas bunda pernas pés. Mas não me causou o arrepio pra me fazer ficar.

sábado, 13 de abril de 2013

Pra Fora dos Trilhos

Eu vim te buscar. Eu vim te buscar como prometi. Vim de carro, porque, por mais que more duas quadras da estação, você pode estar trazendo muita bagagem, e seria pesado carregá-la na mão, andando na rua. Eu não sei se conseguiria me carregar por duas ruas depois que você descesse do trem. Eu vim bem cedo, você não me disse qual trem pegaria, qual horário chegaria, mas não tem problema. Eu cheguei bem cedo, pra ver cada um que pular de cada vagão, pra talvez ser você e pra poder te levar pra casa. Sai de casa, o sol ainda não tinha nascido. 5 e pouco da manhã, eu já estava aqui. Nem tomei café em casa, pra não perder o trem das 5:25, que é o primeiro a chegar todos os dias. Você não estava

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Toque Dela

Eu reconheço o toque dela. Ele é tímido, inocente. Me toca a pele, ponta dos dedos. Pouco me encosta, temerosa. Me segura a mão em raras vezes. Me toca com o olhar, que sorri, singelo. Me acaricia o cabelo, de leve, causando um sono suave.
Eu reconheço o toque dela. Ele é carinhoso, amoroso. Me segura forte a mão enquanto andamos. Me abraça, muito forte, e me beija, desbravando, lentamente, cada centímetro de minha boca. Me sorri, enorme, e me diz sobre o amor que a faço sentir. Toque suave, de suas doces palavras.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Sala de Estar

Olhei ao meu redor, e depois de alguns segundos, comecei a reparar na desordem. Tudo está aqui. Disso eu tenho certeza. Mas está tudo jogado, espalhado no assoalho de madeira velho, e um pouco apodrecido.
As estátuas de gesso, presentes de mamãe, agora são corpos estilhaçados, sem cabeça e membros destroçados. Piso, aqui e ali, em cacos dos humanóides quebrados, tomando cuidado para não pisar em algum fragmento meu. Cuido também para não pisar nos cacos de vidro, provenientes da televisão derrubada, das janelas esmurradas, dos porta-retratos. As fotos, no entanto, permancem intactas. As memórias ali contidas se danificaram mais facilmente que o papel.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Uma Xícara para Dois

Usava luvas. Escondia as mãos cansadas sob a pele de algum animal. Desconhecia o couro. Desconhecia as mãos. As vestes, assim como as luvas, demonstravam que o corpo pálido esperava um frio que há tempos não se via pela região. O casaco comprido, também do couro desconhecido, deixava à mostra apenas as mãos enluvadas, a ponta das botas batidas e a cabeça. Seus olhos estavam distantes. Eu sentia um frio jamais visto emanando da face abatida.
Chegara atrasada, como de costume. Nunca fora muito de pontualidade, principalmente nos últimos tempos. Ela sempre dizia, porém, que não eram atrasos. Era apenas sua noção de tempo que era diferente da dos demais. Em dias passados, diria isso seguido de uma longa e alta risada. Hoje, os lábios cerram em um silêncio arrebatador.