sexta-feira, 22 de maio de 2015

Rotas Opostas

Por que o quarto está tão frio?
Quando, no meio da noite, eu faço essa pergunta às paredes escuras, escuto Ian Curtis traduzir meu questionamento, e seguir sua canção.
Mas, diferente do que ele canta, você não se virou para o outro lado. Afinal, você não mais está?
Onde você esteve por esse tempo todo, afinal?
Não só o amor, mas também as dores, as cores, os medos e o tempo, dilaceraram os teus caminhos, dilaceraram os meus caminhos, e nesses restos esquartejados que foram jogados, aqui e ali, parece não existir mais maneira de reconstrução. Faltam peças nesse quebra-cabeça. Faltam encaixes.
Deitado, no escuro, com todos os meus fracassos expostos nessa coberta de pedaços de mim que me protege do gelado ambiente espectral deste quarto, eu tateio com as mãos pelo colchão em busca de algum resto teu que me esquente a alma, que me proteja dos dedos da noite que tocam meu rosto, de todas as vozes que sussurram horrores aos meus ouvidos.
Alimentando-se das minhas fraquezas, devorando minhas seguranças, destruindo meus escudos, elas riem em schadenfreude. Fecho os ouvidos, tento não ouvir, cantarolo "when routine bites hard, and ambitions are low" em voz baixa, e elas começam a gritar e rir como hienas da noite, e eu tento cantar cada vez mais alto e atravessar as paredes com todas as divisões de alegria e decepções e esperanças que existem dentro de mim. Quando estou prestes a explodir a garganta, e já sentindo o gosto de sangue, elas silenciam e me deixam. Cansado e sem fôlego, fecho os olhos.
Ontem, como todas as noites antes de dormir, eu pensei em morrer de diversas formas diferentes. Os carneiros que eu conto tem cheiro de podre, a cerca que pulam é de arame farpado. Cicuta um, acônito dois, polônio três, cianeto quatro, arsênico cinco. E caio no sono para, infelizmente, acordar no dia seguinte.

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