segunda-feira, 8 de março de 2010

Memórias do Indizível I - Silêncio Revelador

Andei olhando um antigo blog que eu dividia com uma amiga, O Indizível Mencionado, e encontrei algumas coisas minhas que a muito tempo não via. Decidi repostá-los aqui, para não correr o risco de perdê-los nem nada. Que assim seja.

Silêncio Revelador

-
Você? - diz ela, em um tom irônico, beirando ao riso - Você não serve para nada. Você não é nada mais do que um lixo para mim. Um Inútil !

Era comum ele ouvir isso. Ele já se acostumou com toda a hostilidade que o mundo lhe ofertava. Era fato que também, ele nunca tentara se defender. Sempre ouviu calado a todos os insultos que viam a ele. Sabe como é, uma daquelas pessoas que não gostam de criar conflitos.
Cresceu ouvindo críticas destrutivas, de como ele era feio, preguiçoso, inútil, desnecessário. Ouvia de todos que ele estava no mundo apenas para ocupar espaço.
Muitas pessoas dizem que quando se tem dor acumulada, um dia a pessoa explode. Ele não. Ele nunca acumulou força nem vontade para explodir. Ele queria paz, nem que para isso ele tivesse que se manter calado.

Sua mãe o viu novamente sentado em frente ao computador. Fazendo o que, ela nunca realmente se interessou. Ninguém nunca realmente se interessava no que ele fazia. Se era útil, bom, interessante. Ele era incapaz de fazer algo prestável, era o que todos pensavam.
Ela o mandou levantar e se fazer util pelo menos uma vez na vida, lhe virou um tapa no rosto, que o derrubou no sofá.

- Você só está aqui para fazer nada? Então que vá fazer nada em outro lugar, seu verme.

Nesse dia, a pele fina que ele segurava com os dedos para não abrir, finalmente se transformou em ferida. Ele não explodiu, ele não se exaltou. Ele simplesmente, levantou-se da onde havia caído, e deixou uma lágrima cair. E com essa lágrima, a mãe notou, após anos, que até o mais (supostamente) ignóbil dos seus filhos, possuía algum sentimento. E, pela primeira vez em anos, o abraçou.

- Demorou para que você demonstrasse para mim que estava vivo de verdade, meu filho.

É assim. Às vezes a vida leva tempos para nos mostrar, que o que na verdade está nos machucando, acontece apenas para nos ensinar, para nos mostrar um caminho e mudar.
Muitas vezes é dificil aprender, porque temos medo de agir conforme a vida pede, ou porque os obstáculos são grandes.
Mas, certas vezes, palavras mudariam tudo. Ou, uma simples ação. Um gesto, uma lágrima. Uma forma de demonstrar o que se quer dizer, mas em silêncio. O indizível sendo mencionado.

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